quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ê, Jotaéfi...

Juiz de Fora. Gosto muito daqui! Não tenho vindo muito e isso me dói, porque meu primeiro filho mora nesta cidade e eu acabo ficando muito tempo sem vê-lo. Meu moleque é uma maravilha, um presentão do destino, fruto de um amor que passou.

Bem, mas a idéia é falar um pouco de Juiz de Fora. Como já disse, gosto muito, mas ando evitando, essa é a verdade.

Comecei a aprender música e a tocar em bandas aqui. Passa-se muito perrengue no início, isso todo mundo sabe. Cansei de ouvir familiares me dizendo para fazer uma faculdade (não ligada à música) pra não passar fome. Hum. De repente eu poderia comer o diploma... Mas o fato é que, vencida a primeira etapa, a de conseguir que te deixem tocar, esconder a timidez e definir um rumo de trabalho, etc. a impressão que se tem é de que tudo vai se desenrolar, os trabalhos vão ser mais frequentes e melhor remunerados. Isso realmente aconteceu em todos os lugares em que passei um tempo razoável trabalhando... menos em Juiz de Fora.

Quando voltei de Manaus, após um ano e oito meses de muito trabalho, parecia que tudo ia dar certo. As barreiras iniciais já haviam caído e, apesar de estar fora por tanto tempo, as pessoas já me conheciam e eu tinha credibilidade até com quem não tinha me escutado ainda. Teve matéria publicada em jornal, teve exibição em televisão e o famoso boca-a-boca. Os shows ficavam cheios e as pessoas ficavam surpresas com o meu progresso. A grana era ruim. Os donos de bares faziam uma certa questão de ter um grupo no palco e quanto mais gente pra dividir... Então tive que começar a diminuir o grupo, que hoje, na maioria das apresentações, é um duo. Ah! Aí o dinheiro... não apareceu.

A parada funciona (?) assim: os empresários "deixam" você se apresentar nos bares onde, na imensa e esmagadora maioria, não tem equipamento de som. Nós, os músicos, temos que levar o nosso equipamento e isso não fere o bolso dos empresários, muito menos o transporte que, quase sempre, é feito de táxi. Existe um couvert "artístico" que é inexplicavelmente repartido com os donos das casas. A alimentação, que seria no mínimo uma gentileza mas é obrigação do contratante, muitas vezes é ridícula e a bebida é cobrada, às vezes com desconto. Os músicos não tem garantia nenhuma. Não existe um valor mínimo a receber e isso faz com que, não raro, o transporte engula o cachê.

E como é nos outros lugares? Olhem, comparando tudo que eu citei, em alguns bares o couvert é repartido, mas rola aquele tal mínimo, em outros o cachê é fixo. As casas geralmente tem equipamento. O músico é tratado com dignidade, muito bem alimentado, e pode consumir, sem exagero (às vezes), a bebida que quiser. Tem uma casa em Petrópolis que libera trinta reais por músico de consumo (já toquei muito em JF por menos do que isso), além do mínimo já citado, outras deixam rolar à vontade. Tem lugar no Rio de Janeiro em que até nossos amigos consomem com a gente! Isso é um exemplo extremo, né? Mas acontece. Em Manaus a prefeitura paga novecentos reais para você tocar em praça pública por uma hora e meia, no máximo, e a de Petrópolis paga uns seiscentos e pouco. Em JF talvez eles te dêem uma permissão.

Repito: ADORO Juiz de Fora e sinto falta de tocar aqui, tem muita gente que gosta muito do que faço e eu gosto muito de me apresentar para essas pessoas, mas isso parece que vai demorar a acontecer de novo.

Abraços.